Professor Matemáticas FC

 

 

Entrevistador: Vasco

 

 

1.      Qual o impacto das universidades junto dos alunos do 12º ano como possíveis candidatos?

A imagem que as universidades conseguem ter nos alunos é algo que depende de faculdade para faculdade. Umas têm uma política activa no sentido de divulgar a imagem e atraírem alunos e há outras que não e que dormem um bocado á sombra do prestigio que têm ou que julgam têm.

No técnico são os próprios departamentos que tomam iniciativas como seleccionar alunos do 12º ano a quem enviam cartas personalizadas no sentido de os convidar a uma visita ao departamento e desta maneira conseguir atrair uma boa parte desses alunos.

 

2.      Que opção pode tomar um aluno ao longo de um curso?

Eu dou aulas a várias licenciaturas e os alunos têm muitos opções, principalmente agora com o processo de Bolonha a abrir ao máximo o leque de opções que os alunos têm.

 

E- Essas opções relacionam-se com a escolha de cadeiras?

 

Sim, para já em cada licenciatura há um grande nº de disciplinas que são opcionais e que saem fora da área específica da licenciatura e que depois permitem facilitar as transferências para outras licenciaturas.

 

 

3.      Como são feitas as transferências e mudanças de curso?

Com o processo de Bolonha ficaram extremamente facilitadas, exactamente como são não sei, antigamente o aluno tinha que fazer um pedido de equivalência , ter disciplinas feitas e o departamento aceitava ou não o pedido. Actualmente não estou informado.

 

 

4.      De que forma são os alunos avaliados?

Depende da faculdade, do curso, digamos que há cursos com um carácter mais teórico, outros com um carácter mais aplicado. Há disciplinas que são mais práticas e têm aulas de laboratório , e a avaliação é diferente da avaliação típica por exemplo numa licenciatura de matemática. Pode ser com um trabalho final de curso com uma componente mais prática ou teórica ou pode ser por exames, testes ao longo dos semestres e exames no final.

 

      E- Nos cursos pouco práticas a avaliação é feita maioritariamente pelos exames?

Sim, normalmente há a alternativa de fazer a disciplina por testes ao longo do semestre, se o aluno aprovar por testes não precisa de ir ao exame final. Caso não o faça tem que ir ao exame final e tem duas épocas para tentar fazer a disciplina e pode ser posto como alternativa ou até único modo de avaliação final um trabalho que o aluno tem que redigir e entregar.

 

 

 

 

5.      Qual a influência da nota final de curso na procura de emprego?

Também é variada. Por exemplo, se um aluno quiser ir para professor, até agora aquilo que conta é a média de licenciatura. A selecção dos candidatos a uma vaga para professor é feita exclusivamente com base no currículo e a média de licenciatura tem um peso fundamental. Eu acho isto errado. O ministério devia ter critérios para além da média de curso, tal como a instituição em que o curso foi feito. Na maior parte das licenciaturas em que o licenciado vai procurar emprego no mercado de trabalho, no sector privado, a média pode ter algum peso mas ele vai ter que se sujeitar a uma avaliação da empresa que o vai contratar. Portanto a média não terá um peso definitivo.

 

 

6.      A faculdade em que se tira o curso influencia a facilidade em arranjar emprego?

Sim. O estado enquanto empregador, sobretudo em relação aos professores não interessa ter uma média de 14 numa boa universidade ou numa má universidade, é indiferente. No sector privado não é assim e há uma tendência a dar prioridade a pessoas que vêm de uma boa universidade, mesmo tendo médias um pouco mais baixas.

 

E – Que faculdades são consideradas boas na área de CT em Lisboa?

Na área de Engenharias sem dúvida o técnico , não é a única, a Nova também tem cursos de engenharia nomeadamente engenharia informática que são muito prestigiados. Depende muito dos cursos.

 

7.      Quais as saídas profissionais mais frequentes na faculdade?

É muito variado. Tenho alguma dificuldade em falar fora da minha área, de matemática. Dentro da matemática havia a saída de professor do secundário. Mas saídas profissionais: os bancos, as seguradoras que tradicionalmente procuram pessoas com formação matemática sólida, a industria em geral, mas em Portugal não há hábito de se contratar matemáticos mas é algo que está a mudar nomeadamente para grandes empresas que tenham equipas de investigação em várias áreas científicas e tecnológicas percebe a necessidade de contratar matemáticos.

 

8.      Sabe se existem dados estatísticos à cerca da inserção dos diplomados no mundo do trabalho e da sua carreira?

Talvez existam mas eu não tenho conhecimento…

 

 

9.      Quais as competências finais que um aluno deverá ter no final do curso ou de um grupo de cursos idênticos?

10. Como serão aplicados esses conhecimentos numa futura actividade profissional?

Depende da área em que a pessoa vá aplicar o seu conhecimento. Se falarmos de um professor do secundário ele deverá ter aumentado a sua bagagem matemática e ter um conhecimento profundo daquilo que irá ensinar na sua carreira.

Mas muitas vezes os matemáticos são contratados não pelos assuntos específicos que aprenderam mas pelo treino e pela capacidade que adquirem em estudar novos assuntos e aplicar o seu conhecimento em novas áreas.

 

 

11. Pode descrever o processo de Bolonha e as suas consequências práticas?

Na minha opinião a grande diferença é facilitar as mudanças e transferências de curso. Para já a filosofia por trás do processo é tornar as licenciaturas bastante generalistas para facilitar as transferências. Ter um standart a nível da Europa de forma a serem mais fáceis transferências entre universidades.

 

 

12. Como funciona a relação professor aluno a nível universitário?

Depende dos professores e dos alunos…

 

E- Se os alunos procurarem os professores eles estão disponíveis?

Sim, na generalidade sim. Eu estou e a maior parte dos meus colegas também. Acontece que muito poucos alunos nos procuram apesar de terem dificuldades. Tal como no secundário há horários de apoio para os professores tirarem duvidas aos alunos.

 

 

13. Que actividades e tarefas poderá um candidato esperar neste curso?

Há disciplinas opcionais e obrigatórias. No início vão ter disciplinas que avançam aquilo que se aprende no secundário em relação a cálculo, derivadas, resolução de sistemas, análise matemática.

 

14. Descreva-nos o caminho que um aluno faz desde que é colocado num curso do ensino superior.

O primeiro ciclo são seis semestres e há um número de cadeiras que tem que fazer. Terminando a licenciatura pode começar a trabalhar ou pode fazer um mestrado que são mais dois anos com uma parte escolar e uma tese e depois há o 3º ciclo que é o doutoramento que também tem uma parte escolar e uma tese.

 

E- As pessoas podem ser facilmente empregadas depois do primeiro ciclo?

Sim. Depende da área de cada um mais vai ser mais difícil uma pessoa ter um bom emprego só com o primeiro ciclo.

 

15. Que tipo de trabalho deve o aluno fazer, em que quantidade e com que regularidade?

Para além de assistir às aulas o aluno deveria procurar fazer uma revisão do que aprendeu na aula e tentar compreender realmente os conceitos que foram explicados e tentar resolver os exercícios propostos.

 

E – Isso ocupará grande parte do tempo livre do aluno?

Isso dependerá do aluno e da bagagem que trouxer, uns farão isso sem esforço nenhum e outros terão que fazer muito mais esforço para não perder o comboio e não deixar que as aulas se tornem completamente imperceptíveis.

 

16. Pode descrever-nos o seu percurso académico?

Sim. Acabei o secundário e entrei directamente para o curso de matemática em 1979/80, terminei a licenciatura em cinco anos, o nº exacto de anos previstos para a licenciatura. Depois estive 4 anos contratado como assistente estagiário e entretanto obtive uma bolsa para ir fazer o doutoramento para o Brasil para o Instituto de Matemática Pura e Aplicada onde estive 4 anos, obtive o doutoramento, voltei e desde então tenho estado a dar aulas na universidade.

 

 

17. Quanto tempo pode o aluno ficar a fazer um curso? Quais as consequências de demorar mais ou menos tempo?

Sim, acho que um aluno pode ficar indefinidamente a fazer o curso e as consequências são mínimas. Eu sou um forte defensor de um sistema de prescrições que não existe implementado em nenhuma universidade em Portugal, ou seja onde os alunos tenham um nº limitado de tentativas para fazer cada disciplina. Há pouco empenho e incentiva-se pouco a responsabilidade aos alunos. Se a situação económica familiar permitir, o aluno em vez de ao fim de 5 anos ter que ingressar no mercado de trabalho, se poder adiar isso por mais cinco anos, tendo a boa vida de estudante, a vida de estudante é sempre mais fácil e agradável, ficará no ensino superior… O facto de não haver um sistema de prescrições faz com que muitos alunos vão a exame sem terem estudado e feito um esforço honesto, á espera de ter sorte e muitas vezes ao fim de 4 5 vezes têm sorte e passam a disciplina. Portanto eu acho que este sistema é mau. Os alunos não são pressionados para darem o seu melhor e se vamos avaliar o desempenho de uma faculdade pelo sucesso dos alunos a avaliação está viciada.

 

18. Fale-nos um pouco da parte investigação e actividades inovadoras levada a cabo nesta faculdade.

Um matemático aplicado aplica a bagagem matemática a resolver problemas concretos de aplicações à indústria e a outras ciências. Por outro lado, o matemático puro tenta resolver problemas internos à própria matemática que depois podem facilitar a sua aplicação.

 

19. Que conselhos gostaria de dar aos alunos do 12º ano de Ciências e Tecnologias que pretendem candidatar-se ao ensino superior e se preparam para fazer uma escolha importante para o seu futuro?

Neste sistema, desde o secundário, e passando pela universidade, os alunos são muito motivados a estudar pela nota. A nota é que é importante porque são as médias do 12ºano que vão determinar a sua entrada nos cursos do ensino superior. E na universidade os alunos sabem que dependendo da média que tenham vão ter mais ou menos dificuldade em obter uma bolsa para uma pós-graduação ou arranjar emprego. As médias são impostas mas eu acho que deveria ser dado mais importância ao conhecimento porque é isso que verdadeiramente importa. O maior proveito que se tira de uma instituição de ensino não são as notas, as notas surgem naturalmente se a pessoa gostar e se empenhar no que está a estudar.

Eu aconselharia que nós não aprendêssemos as coisas meramente pelas notas mas que procurassem gostar daquilo que aprendem.

 

20. Que informação disponibiliza a faculdade que possa ser útil para os alunos que se preparam para escolher um curso para que possam ter noção do que os espera nos vários caminhos que podem tomar a curto e longo prazo?

O estudo das saídas profissionais não será feito pela universidade mas pelos departamentos. Nesse aspecto, o técnico tem um gabinete de imagem que não tem algo de paralelo em mais nenhuma faculdade de Lisboa. Na faculdade de ciências, na página da faculdade deve haver toda a informação sobre as licenciaturas, agora as saídas profissionais deveriam estar nas páginas dos departamentos. Cada vez mais os departamentos vão ter que ter essa preocupação.

 

E – Achamos que é importante os alunos terem a ideia das consequências do curso a longo prazo, nomeadamente as saídas profissionais…

As páginas dos departamentos não estão uniformizadas mas julgo que têm a preocupação de atrair os alunos e devem ter lá esse tipo de informação

 

21. Acha que existe um choque quando os alunos chegam ao ensino superior? A que é que isso se deve?

Muitas pessoas que entram para matemática entram com uma ideia errada. Há um embate na entrada para a universidade, o nível de exigência do ensino português dentro da universidade é baixo. Um aluno mediano não precisa de se esforçar para ter notas razoáveis. Há um choque porque a maneira de ensinar é diferente, o ritmo a que a matéria é dada é outro, o nível de exigência é outro, e a maior parte dos alunos não conseguem , com os mesmos hábitos de trabalho do secundário manter as notas ou acompanhar a matéria.

Acho que não é tanto o conhecimento ou a falta dele mas são os hábitos de trabalham que criam o choque à entrada na faculdade. Para além disso, há a cultura do jogo de cartas na faculdade, o “king”. Passam tardes nos bares a jogarem cartas e isso não é compatível com o estudo e não é algo que venha do secundário…

Não é bom os alunos andarem a passear na universidade a gastar os recursos financeiros do estado e da família sem darem nada em troca. Isso não cria trabalhadores responsáveis.

 

E- que soluções podem existir para este desfasamento entre o ensino secundário e superior?

 

Há muitos departamentos que criam uma disciplina opcional que não faz parte do currículo para ajudara colmatar as deficiências de formação que os alunos trazem do secundário e que funciona no primeiro semestre do primeiro ano.