Matemática aplicada

 

 

Entrevistador: Vasco

 

Entrevistados

Curso: Matemáticas Aplicadas

Faculdade: Instituto Superior Técnico

Anos no curso:2º

 

Esta entrevista foi feita a duas alunas em simultâneo, ambas nas mesmas circunstâncias académicas. As alunas serão referidas como A1 e A2. O entrevistador será referido como E.

1.Este curso foi a tua primeira escolha? Se não qual foi?

A1-Foi.

2.Informaste-te sobre o curso antes de o escolher? Se sim, que informações procuraste? (média, etc)

 

A1-Sim. Fomos à Futurália. Ofereceram-nos catálogos e coisas desse género… nada de especial…

E – E que informação procuraste mais?

A1- Olha no meu caso, o meu pai dá aulas aqui (IST), o meu pai é professor de Engenharia Mecânica. Então eu conhecia as coisas, sabia mais ou menos de que tratava o curso, conhecia as pessoas…

A2- Não me informei muito. Foi tipo: na semana anterior, olha que giro um curso de Matemática Aplicada no Técnico, vamos! O primeiro dia em que vim ao Técnico foi no dia das inscrições.

 

3.Sentes que fizeste uma escolha consciente?

A1-Acreditem ou não estávamos a falar sobre isso mesmo antes de chegarem. Acho que fiz uma escolha consciente mas acabou por não corresponder ás expectativas.

E- Quais eram as expectativas?

A1- Acho que na faculdade, vocês vão ver, vocês sentem-se burros todos os

dias. Eu achava que gostava muito de matemática, nunca me considerei uma pessoa burra, mas agora na faculdade…

A2 – Mas acho que isso depende de faculdade. Tenho amigos que estão em privadas e é “ vamos ter todos vinte”, e no secundário tinham média de 11.

E- Acham que para as saídas profissionais tem o mesmo peso uma nota alta numa privada e numa pública?

A2- Acho que não, eu sinceramente não sei, mas espero que não…

E – E não têm dados concretos em relação a isso?

A1- Por acaso tenho porque tenho uma amiga que estudou na Nova que apesar de tudo é prestigiada, mas nunca passou á frente de pessoas do nosso curso ( para arranjar emprego). Há faculdades com mais prestígio que outras, e os seus cursos.

E – E para ti correspondeu ás espectativas?

A2- Não, não. Quer dizer eu também não tinha muitas expectativas reais, não sabia, sabia “ah que giro, matemática do 12º é giro”, mas na verdade não tem nada a ver.

4.A tua média influenciou a tua escolha?

A1-Não

A2- Não

5.O que é que tens que fazer para passar de ano?

A1- Não é como no secundário, não se faz anos, faz-se cadeiras ou disciplinas. Portanto se deixares uma ou duas cadeiras para trás voltas a fazer, isso não invalida fazeres o curso que estás a fazer.

E – Então podes estar 20 anos a fazer o curso?

A2- Podes. Quer dizer podes prescrever se não fizeres nenhuma cadeira. Ah, agora também há os créditos…

E- Tem a ver com o processo de Bolonha não tem?

E- Compreendem o Processo de Bolonha?

A1- Mais ou menos

A2- Mais ou menos.

 

A1- Sei que é suposto nós estudarmos mais sozinhos do que os professores ensinarem. Temos mais trabalho em casa…

A2- A cada cadeira são atribuídos créditos de acordo com a importância da cadeira, a dificuldade… Pode haver cadeiras que contam muito mais para a tua média que outras.

E - Isto contribui para se mudarmos de Universidade saberem exactamente que trabalho foi realizado até á data pelo aluno, sendo os curso equivalentes…

A2- Sim.

A1- Sim. Porque se quiseres mudar de Universidade podes ter equivalência e aí entram os créditos entre outras coisas… ( Suplemento ao diploma , não referido) Também não estou muito bem informada…

6.O que são as frequências?

A1 – São os testes.

7.Quais são as notas mínimas para passar?

A2- Depende. Por exemplo temos uma cadeira em que só passaram dois do nosso curso no ano passado, então alteraram a nota mínima para 8,5. Depende dos professores, do regente da cadeira.

8.Quantos alunos existem na tua área?

A2- No nosso ano existem 15. O ano passado éramos 30. ( risos)

E – Porque é que metade dos alunos abandonaram o curso?

A1 – Porque é difícil. ( risos)

E – Mudaram de curso?

A2- Sim, houve gente que mudou de faculdade, outros mudaram de área e também há sempre aqueles que queriam Medicina mas não conseguiram entrar e vieram para cá.

E- No total nesta área sabem quantos alunos há?

A1- Cento e tal…

9.Consideras o curso difícil?

A1 – Sim, claro, mas depende de pessoa para pessoa.

E- Exige muito trabalho em casa? Estudo?

A1 e A2- Sim.

E – Acham que todos os cursos do ensino superior exigem?

A1 e A2- Não.

A1- Mas depende muito dos cursos e das capacidades das pessoas. Temos colegas que não estudam nada e têm média de 20, não estamos a exagerar. (risos)

10.O teu curso tem saídas profissionais?

A1- Tem.

A2- Eu espero que sim… ( risos )

A1- Eu penso que tem porque supostamente tudo precisa de matemática.

E – E sabem quais as saídas profissionais na prática?

A2- Bancos , programação, computadores…

E- Têm acesso a dados estatísticos sobre a percentagem de pessoas que vai para cada profissão?

A1- Sinceramente não. Só tivemos acesso á percentagem dos que queriam ir.

E – Nós gostávamos de incluir essa informação no nosso trabalho…

A1- Há uma coisa que te posso dizer, que é : há muitas pessoas que estão em Matemática e há duas áreas que são a Matemática aplicada e a matemática pura que é uma coisa que vocês não fazem a mínima ideia do que é e eu também não fazia e se soubesse não estava neste curso ( risos ).Mas há pessoas que escolhem pura, que é uma matemática onde não há números e as pessoas que vão para puras costumam ser pessoas muito inteligentes que querem seguir carreiras académicas na faculdade, fazer investigação, essas coisas…

E- Já têm em mente um emprego ou uma carreira?

(risos)

E – Acham que a maioria dos alunos universitários já tem em mente uma carreira?

A2- Sim, sim. Porque as pessoas na faculdade começam a fazer escolhas muito cedo. Por exemplo, já temos disciplinas opcionais, e tens que começar mais ou menos aquilo que queres…

11.Em média quanto tempo demora a concluir o curso?

 

A1- A licenciatura é uma coisa que supostamente se faz em três anos mas no ano passado só entraram para mestrado duas pessoas com a licenciatura feita.

A2- Normalmente demora-se mais que três anos.

12.Acham que os alunos esperavam outras coisas do ensino superior?

A1- Sim, acho que esperavam outras coisas, tinham outras expectativas.

E- Acham que isso se pode dever a uma má preparação para a escolha e para a realidade que se vive no ensino superior?

 

A1 e A2- Sim.

E- Acontece muito no ensino superior?

A1- Sim. Eu acho que tu não podes saber o que se passa aqui dentro. Tu não consegues perceber… Só quando estás cá dentro é que percebes.

E – Um dos objectivos do nosso trabalho é que os alunos possam estar melhor preparados para a escolha e para o ensino superior…

A1- Eu acho que as pessoas do secundário são muito mal preparadas para esta realidade…

E- O que é que acham que devia ser feito?

A1- Olha, o que vocês estão a fazer é óptimo, só é pena é ter que ser iniciativa vossa… No meu 12º ano tinha pessoas a pedirem para virmos aqui, porque eu tinha contactos aqui, e os professores não deixaram porque não queriam perder tempo. Ninguém nunca arranjou tempo para nós… Por causa disso vocês chegam aqui e os professores partem do princípio que sabem matrizes e eliminação de Gauss porque na altura deles se dava.

A2- A primeira aula foi para aplicar matrizes e nós achamos que era uma aula a gozar… Depois disseram-nos que tínhamos mesmo que saber aquilo…

A1- Ah , e é bom vocês entrevistarem alunos mesmo, porque ás vezes vão ás faculdades e são atendidos por professores…. Opá , os professores são criaturas que acabaram o curso com média de 20 e não sentiram as dificuldades que muitos sentem.

A2- Os professores dizem sempre que é muito fácil , só têm que estudar muito. Mas depois vocês estão na faculdade, têm uma vida social e têm que passar sete horas por semana a estudar para UMA cadeira…

 

13.Conheces alguém que já tenha emprego garantido? Se sim como é que o arranjou?

 

A1- Começam a enviar currículos antes de acabar o curso e quando acabam a licenciatura são chamados para empresas. E depois há os que são muito bons alunos e que são empregados na Universidade.

E – E esses continuam para professores?

A1- Professores, investigadores…

E – Que investigação se faz aqui no Técnico?

Em engenharia mecânica sei que o técnico tem laboratórios excelentes. O técnico também faz estudos sobre diversas situações relacionadas com estatística e programação. Por exemplo, o número de aparelhos que são precisos num hospital envolve matemáticas aplicadas.