Enfermagem

 

 

Entrevista a profissionais nas áreas da Saúde Tecnologias e Ciências diplomados no ensino superior público universitário

 

Enfermeira Chefe do Hospital de Santa Maria

 

  1. Que curso do ensino superior frequentou e em que faculdade?

Curso superior de Enfermagem actualmente no ISEL.

 

  1. Como é que escolheu o curso do ensino superior em que se diplomou?

 

  1. Como é que arranjou o primeiro emprego? Foi fácil, difícil?

Nessa altura era fácil. (…) Hoje é difícil porque a nível governamental há muita limitação nas admissões, diz a legislação que não podem ser admitidos mais profissionais e por cada dois que saem só pode ser admitido um. Neste momento face ás necessidades reais temos um número de enfermeiros insuficientes contudo neste momento temos 2100 enfermeiros no desmprego.

 

  1. De que é que depende ter facilidade ou não em arranjar emprego? Quais são os critérios dos empregadores?

A zona norte forma muitos alunos mas não há capacidade de absorção a nível de emprego e nós aqui em Lisboa absorvemos muitos recém-licenciados. O Hospital de Santa Maria é o principal empregador e de desenvolvimento de competências da zona. Portanto depende do local onde a pessoa tira o curso, depende das notas e se o licenciado estagiou nessa instituição tem prioridade para trabalhar nessa instituição.

 

  1. Sabe qual é aproximadamente a percentagem de diplomados que arranja emprego em menos de um ano?

Deve estar á volta dos 40% e com tendência a diminuir essencialmente pelo facto de não abrirem vagas.

 

  1. Qual é aproximadamente a percentagem de diplomados que arranjam emprego numa área directamente relacionada com o curso?

 

 

  1. Que saídas profissionais existem e quais são os principais empregadores?

Temos a área hospitalar e a área da saúde publica ou dos cuidados primários. Na área hospitalar podemos estar numa área técnica em laboratórios , unidades técnicas ou bloco operatório e a nível da consulta. Na área da saúde pública há a parte de promoção da saúde, prevenção de doença, em escolas lares, reuniões com as juntas de freguesia e outras instituições e a continuação dos cuidados integrados do doente em recuperação. Nós em enfermagem não tratamos nós cuidamos. Os enfermeiros também podem ir a casa dos doentes prestar cuidados.

            Os principais empregadores são hospitais, clínicas privadas e empresas e centros de saúde. Há muitas empresas que têm enfermeiros na área da medicina do trabalho.

 

  1. Tem alguma ideia da distribuição dos diplomados pelas várias saídas profissionais deste curso ou deste tipo de cursos?

A área hospitalar é sem dúvida o maior empregador.

 

  1. Que actividades se realizam nas profissões que se podem exercer?

A enfermagem é cuidar, ajudar a pessoa a recuperar a manter ou a melhorar a sua saúde. É um conjunto de intervenções de enfermagem que visam recuperar a saúde melhorando a qualidade de vida, cuidados de higiene, alimentação administração de terapêutica, mobilizações de doentes, posicionamento para prevenção de deformidades ou de úlceras tratamentos de feridas, pensos por exemplo pós operações, actividades de resolução de problemas sociais.

 

O Enfermeiro gestor é a pessoa que tem a seu cargo a gestão dos recursos humanos e dos cuidados de enfermagem, o modo como os enfermeiros planeiam e executam as suas tarefas. Depois há a gestão de recursos materiais, físicos de condições de higiene... Há uma série de actividades que são feitas para o serviço poder dar resposta imediata.

 

Ser médico é diferente de ser enfermeiro, ser médico é tratar, ser enfermeiro é cuidar. Isto é uma relação de parceria muito importante para se conseguir bons resultados na saúde. O médico trata e prescreve o enfermeiro administra o tratamento. O enfermeiro também informa o médico do estado do doente…

 

  1. Quando escolheu o curso do ensino superior tinha uma ideia correcta de como ia ser o seu percurso académico e a sua actividade profissional a longo prazo? (Se não) A que é que isso se deve? O que é que acha que se deve fazer para que as pessoas possam ter consciência das consequências da escolha do seu curso a longo prazo?

Eu naquela altura tinha porque estava envolvida de certa forma com a profissão. Hoje acho que a maioria dos alunos optam por enfermagem porque não têm média para medicina e têm uma visão por vezes deturpada da profissão de enfermagem. A taxa de desistência no segundo ano é elevada.

Habitualmente chegam a entrar numa escola 150 alunos e no segundo ano, uns porque desistiram outros por chumbos porque é um curso essencialmente prático e 40 % dos alunos desistiram ou chumbaram . No fim apenas 50% concluem o curso.

Isto para dizer que actualmete os jovens quando vão tirar um curso realmente não está informado do que é a profissão e a carreira. Quando são confrontados com a realidade é um choque muito grande que os leva muitas vezes a desistir.

 

  1. Como é a evolução na carreira? Que escolhas se podem fazer ao longo dela?

Neste momento a carreira de enfermagem está a ser debatida.Não sabemos se no futuro vai haver carreira de enfermagem. Até agora havia uma lei para a evolução na carreira de enfermagem .Fazia o curso tomava algumas opções ao longo do curso e especializava-se. Depois de ser enfermeiro especialista pode-se evoluir para enfermeiro chefe por concurso de provas públicas se houver vagas, ou seja é um concurso curricular e de discussão curricular.

No Hospital de Santa Maria somos cinquenta e tal enfermeiros chefes.

Até Enfermeiro graduado neste momento é uma evolução normal a partir daí a pessoa pode evoluir dependendo dos graus académicos que for adquirindo.

 

  1. Qual é a remuneração média dos recém-diplomados?

1090 euros de vencimento base contudo os enfermeiros trabalham em horários rotativos portanto há enfermeiros durante a manhã a tarde e a noite. Neste momento ainda há um suplemento remuneratório para os enfermeiros que trabalhem á tarde e á noite e eu digo ainda porque está tudo a ser modificado e não sabemos se vão acabar com esses suplementos. Estamos a favor dos concursos para especialista e para enfermeiro chefe. Estamos a tentar, os sindicatos, ser equiparados aos técnicos superiores de saúde, técnicos de análise, técnicos de radiologia, técnicos de farmácia ,fisioterapeutas e dietistas, que não entendemos como, têm o mesmo tipo de formação e as mesmas exigências iniciais e saem da escola com um índice remuneratório de 1200 euros e têm outra progressão. O governo não quer aceitar que nós não deixamos de ser técnicos superiores de saúde.

 

  1. Quais os aspectos que considera positivos nestas profissões? E negativos?

A profissão de enfermagem é uma profissão de ajuda e de relação. É muito gratificante podermos cuidar dos outros mas temos que gostar do que fazemos. Tem que haver alguns sentimentos de solidariedade para com o próximo para conseguirmos desenvolver a nossa profissão porque se só olharmos á parte técnica isso não é enfermagem. E é muito gratificante quando um doente tem alta e nos vem agradecer. Não ajudamos a recuperar a saúde física mas ajudamos a recuperar a saúde mental e a qualidade de vida do doente e a sua forma de estar e o seu equilíbrio psíquico e isso ás vezes é mais importante. Eu prefiro ter um enfermeiro sobre minha supervisão que saiba ter uma boa relação com os doentes, relação de proximidade sem envolvimento nas situações eu prefiro do que um enfermeiro que seja perfeito tecnicamente. Aceito falhas não graves técnicas mas se um enfermeiro responde mal ou de forma indelicada a um doente isso já não aceito.

 

Aspectos negativos.. tem a ver com o facto de se trabalhar por turnos tem a ver com o que vai ser o futuro da enfermagem: não sabemos… Na nossa cultura a visão que se tem da enfermagem não é uma visão que dignifique a profissão e há um longo caminho para conseguir que a profissão seja reconhecida a nível social com ela devia ser.

 

Há algum concelho que gostaria de dar aos alunos que se preparam para escolher um curso?

Têm que reflectir bem aquilo que querem. Aquilo que gostam mesmo de fazer. O mais importante é as pessoas terem um objectivo e tentarem alcançar esse objectivo ou seja tem que se escolher uma profissão não tendo em conta que é porque a família quer ou porque é da família ou porque vai dar muito dinheiro… A pessoa tem que escolher a profissão que quer porque só assim conseguimos aceitar e ter um bom desempenho nessa profissão.